quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lua em Plutão, Marte na casa 3

Não sei qual foi a configuração astral na qual fui concebido, mas, francamente, vai tomar no cu. São cinco anos agora. Cinco anos de manifestações afetivo-sexuais, desde que eu beijei a primeira pessoa até esse momento. Cinco anos de relacionamentos de microondas, de fodinhas marcadas, de primeiros encontros fascinantes, de segundas semanas geladas, de ligações caindo na caixa postal, uma após a outra, sem ser atendido nem ter a ligação retornada.

Parece que nado contra a corrente. As pessoas calmamente se deliciam na via expressa da putaria generalizada, do amor fast-food, das palavras contidas, do sexo sem conversa. E eu ali, aflito, sem saber como lidar com essas coisas, sempre entrando de cabeça nos relacionamentos – geralmente sem medir a profundidade da piscina e batendo a cabeça no fundo.

Como lidar com tudo isso? Como conhecer a pessoa, fodê-la, pegar um ônibus de volta e marcar mais um ponto no grande score do jogo do sexo casual? Como conseguir não se envolver, apaixonar-se, tentar entender? Há realmente uma pré-disposição geral para bloquear toda a humanidade na pessoa e vê-la somente como boneca inflável?

Espero, espero muito, que eu não seja vítima do revanchismo. Que eu não faça, na primeira oportunidade, aquilo que me fazem com freqüência. Que não passe adiante essa visão totemizada do sexo, o culto ao falo, a desvalorização da pessoa enquanto indivíduo.
E quando digo isso, por favor, não entenda como uma idealização do relacionamento, uma volta ao romantismo. As minhas expectativas são bem reais, e eu as encontro de vez em quando, inusitadamente, prova de que eu não estou variando aqui.

Não sei qual foi a configuração astral na qual fui concebido, mas, francamente, vai tomar no cu. Que me desse a safadeza, mas não acompanhada de consciência. Ou o contrário. Em ambos os casos, foda-se a astrologia.

I'm not like the girls that you've known
But I believe I'm worth coming home

terça-feira, 31 de março de 2009

:D

Sou todo sorrisos. Sorriso é a máscara mais habitual pra mim. O sorriso da conivência, da falsa aceitação, do sarcasmo e do infortúnio alheio que me divertem ou que me espantam. É mais fácil dizer as coisas com um sorriso e aceitar as coisas com um. Celebro, pois, minha cara de pau e minha sem-vergonhice, que faz suas malas. Um beijo pro sorriso, goodbye, so long.


            Decidi ser um pouquinho mais íntegro, e parar de abrir mão, de fazer emendas em minha moral. Deixar a conivência, a falsa aceitação, o sarcasmo e o infortúnio alheio de lado, ou tratá-los com a seriedade que merecem.


            Tenho vivido a serviço das paixões, num domínio fascinante. Deixei-me ser levado em correntezas estranhas, pra lagos distantes, por vezes sem saber como voltar, por vezes me maravilhando com outros córregos na seqüência. Decidi fechar a cara. Decidi dizer não. Decidi abrir mão dos sorrisos e da leviandade, das paixões e da crueldade acerca delas. Decidi ser mais sincero, e não emoldurar essa sinceridade bruta num sorriso lapidado. 


Freedom comes when you learn to let go
Creation comes when you learn to say no

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pequeno protesto contra a sexualização das coisas

Tenho pensado muito a respeito da sexualidade. A respeito da minha sexualidade, em especial. E tudo o que a envolve. Sim, porque hoje não basta apenas definir sua orientação; ela vem num pacote completo e forma a sua personalidade.

Desde que eu me entendo por gente, tudo é rotulado como sendo gay ou hétero. Músicas, livros, filmes, vestuário, etc. O interessante é que essas coisas não são e nunca foram feitas com o intuito de ter viados ou HTs como público-alvo. A afinidade das coisas e das pessoas de uma ou outra orientação é que que formaram esse conceito. Calça skinny, converse branco, Madonna, comédias da Sony são tachadas de coisas gays. Quando um hétero gosta de alguma dessas coisas, portanto, é tachado de gay. Rihanna? Gay. Siur Rós? Gay. Hot Chip? Gay.


Mas você já viu algum gay que escute sertanejo ser tachado de hétero? E os gays que usam calça skatista, vans, jogam Wining Eleven e jogam pelada no fim de semana? E os héteros que não perdem um capítulo de Ugly Betty e têm a discografia da Björk?


Desde pequeno eu aprendi a separar todas as coisas do mundo na caixinha rosa e na caixinha azul. E, talvez por me identificar mais com as cosias da caixinha rosa, tenha pensado: oras, devo então ser gay. Quantas vezes nessa vida eu já ouvi isso de outros viados, sobre terceiros: esse aí é gay, só não descobriu ainda / só não gosta de pau ainda. E tudo porque eles têm gostos semelhantes.


Mas você já ouviu algum hetero dizer isso às avessas? “Esse aí é ht, só não descobriu que gosta de xoxota ainda”? Na vida que não! Apesar dos gays levantarem a bandeira da diversidade, parecem ser eles mesmos os maiores castradores da diversidade. Exemplo básico: assim como estampar uma camiseta com a frase “orgulho branco”, estampar “orgulho hétero” parece uma ofensa a todas as bichas, sapas e travestis existentes. É incrível.


E aí eu fico pensando nos bissexuais. Que bosta que deve ser, hein. Porque bom, se você deve se enquadrar em padrões estéticos e morais pra ser uma coisa ou outra, imagina estar na corda-bamba. Que fique claro, não acho que enquadramento da personalidade pela sexualidade ou coisa que o valha seja uma coisa divertida ou natural, mas que é algo real, que tá aí, sendo esfregado na sua cara todos os dias. E os bis aí, correndo pra lá e pra cá. São deles mesmos essa coisa bárbara da quebra dos padrões. Existem esteriótipos mil pra viados e HTs. Mas e pros bis, que é que rola? Uma massaroca, então nada mais justo do que realmente chutar o balde e sair da caixinha rosa e da caixinha azul.


É triste saber que existe uma grande quantidade de pessoas que foram enquadradas numa sexualidade e outra a partir desses conceitos. Mais triste é saber que mesmo depois de ter todo esse conhecimento em mãos, muitos optam por continuar a levar uma vida vazia, com medo de um mundo estranho no qual não estão habituados. Comecei a remexer nas caixinhas que guardo na minha própria cabeça, decidi tirar tudo dentro delas e colocar em outros compartimentos não-tão restritos. E aí, você não acha que está na hora de dar uma olhada nas suas também?


This is an alarm call
So wake up, wake up now

quarta-feira, 18 de março de 2009

Devaneios

Passo tristonho pelas ruas e ouço gargalhadas alheias. Arco-reflexo, levanto a cabeça e procuro a origem dos sons. Três moças riem de algo, dentro de alguma loja com fachada de vidro. Quando os olhares se cruzam, a gargalhada cessa, esconde-se, procura um buraco, enterra-se. Tenho raiva das gargalhadas alheias, procuro-as, quero devorá-las, quero que sumam dentro de mim. Quero-as pra mim. Dentro dessa solitude irrequieta, não admito que os outros riam e comemorem, quando pra mim todas as risadas e comemorações parecem irreais e falsas.


Mantenho o olhar, já quero pedir desculpas, a negritude dentro de mim quer saltar, procurar a gargalhada que se calou, fazer as pazes, tornar-se amiga, rir e comemorar. Quando os olhares magneticamente se repelem, no entanto, todo o sentimento de reconciliação com o mundo se esvai, volto a mim mesmo, pés que não param, brasa queimando, fumaça que sobe.


É irredutível essa calmaria negra, esse mar de piche no qual nado. Transformo-me, quero ser violino desafinado, que grita e esperneia de forma tão bruta que até mesmo os pêlos de cavalo que formam o arco se arrepiam. Quero ser Valsa Negra, enfurecida, cordas em fogo, e que todos dancem. Dancem, não parem, pés descalços, sigam a melodia. Guardem as gargalhadas nos bolsos, não há espaço pra essas coisas aqui, pés que giram, em colérica ciranda, esfalecendo-se sob meus desejos.


Billowing out to somewhere

Billowing out, Luna Riviera

terça-feira, 17 de março de 2009

Level up

Parece que você não acerta nunca na vida. Apesar do universo utilizar um dispositivo chamado tempo, que permite que as coisas todas não aconteçam todas num instante só, sempre parece que há uma pilha de problemas na fila de espera, pronta pra lançar o próximo da lista. Daí que eu sempre entendi a vida como uma série de levels. Level um, a infância, dois, a escola primária, três, o ginásio, ad infinitum (aliás, nem tanto né, chega uma hora que você já tá no bônus faz muito). Mas quando é que eu vou ver a porra do grande chefão? Percebi então que o interessante não é usar aquele MP monstro e aniquilar tudo de uma vez, e passar todas as fases em dois dias. Porque esse jogo ninguém vence em dois dias, né, afinal, você continua vivendo um bom tempo, até seu ammo acabar, ou sei lá.
Mas pra que serve, então, esse super game de estratégia chamado Viver? Às vezes tô alí, de buenas com meu cigarritcho, e fico pensando nisso. Não no sentido da vida no geral, tipo “e Deus fez as minhocas e as formigas etc”, mas no sentido pessoal. Estudo pra trabalhar, trabalho pra viver, vivo pra... ahn... é... isso, vivo. Vivo? Sobrevivo? Existo? O cigarro termina, acendo outro, continuo a pensar. Continuo a pensar até a caixa acabar, porque esse não é bem o problema. Sinto-me como a formiga, que, ao andar sobre a laranja, muito espantada com uma pequena reentrância, que, pra ela, é tão grande como alguns buracos da Beira Rio, de repente pára e exclama consigo mesma: sinto cheiro de laranja! Eu, particularmente, sinto cheiro de algo mais pairando por aí, algum tornado atrás da porta, soltando brisas de vez em quando, e por isso mesmo tenho medo de usar muito o olfato.
Mas nem o tornado nem a laranja são os grandes chefões desse reality show chamado vida. Então quem é? E por que raios fica atirando tortas de lama contra moi? Você estuda, e estuda, e estuda, e adquire conhecimento, e mais, e mais, teoria alí, literatura acolá, doze anos na escola, (no mínimo) quatro na faculdade, e aí tá na área, vai chutar pro gol, passou o zagueiro e ahn.. cadê o gol? Time's up? Terminou? Mas já? Tava tão perto... Perto de quê? De revolucionar a escova de dentes elétricas? Pra quê? Ora, com dentes melhores, viveremos mais.
Que bonito, que bacana! Com dentes mais saudáveis, mais levels a cumprir. Mais estrada pra correr, mais indagação pra fumar, mais pergunta pra beber, mais incógnita pra cheirar. E você evolui, você digivolve, você acumula três páginas de currículo profissional, e ainda não sabe pra onde está indo. No final da vida não tem videozinho de três minutos explicando os segredos do jogo, e porque aquela policial bonitinha virou um demônio maligno e aniquilou a cidade. Os jornais continuam a não-explicar porque alguém mantém a filha em cárcere privado por 24 anos. Ou porque um garoto de 17 mata professoras e estudantes.
E eu olho pras criancinhas, todas elas bonitinhas, arrumadas em seus uniformes, brincando de Magic, ah, eles estão jogando Pokémon, que bonito, que saudade de Pokémon. Saudade de jogar jogos com regras fixas, explicadas, com objetivos, com certezas. Esse jogo aí que lançaram, essa tal de Viver, isso aí é uma bosta.

And through the holes they send us mugpies

terça-feira, 10 de março de 2009

Aviso aos navegantes

Estou numa fase bastante ruim. Aquela depressão-monstro que arrasara minha mente e deixara meu corpo em frangalhos em 2006, voltou. Escondeu-se durante dois anos aqui e ali, aparecendo no canto do olho entre dois picos de mania ou na calmaria que se estende entre dois dias agitados. Durante dois anos eu realmente caguei e andei, larguei terapia, achei que esse filme não teria continuação. Mas teve.

No semestre passado os sinais foram soando mais alto. Parecia que a sirene da ambulância rondava a vizinhança, mas que nunca passaria na frente da minha casa, deixando apenas um eco chato e constante. Tive três ataques de pânico, desde então. Meus relacionamentos familiares, que nunca foram grande coisa, esfacelaram-se. As amizades, em grande parte, não adquiriam XP suficiente e, aquelas outras, estreladas, esmaeceram, estilhaçaram ou implodiram.

Durante esse tempo todo, eu tive três grandes prazeres, que também eram fugas: a fotografia, a música e o sexo.

Com as minhas idas e vindas da praia a Joinville e de Joinville à praia, sempre em dias e horários aleatórios, prejudicou bastante a minha disposição para sair com a câmera à mão.

A música fugiu de três formas diferentes: primeiro, perdi meu computador, e com ele a minha biblioteca de cortes de papel, de momentos masoquistas. Quarenta gigabytes de cilício foram embora. “Isso deveria ser bom”, alguns podem dizer. Mas aquela era “a pain I was used to”, diria o vocalista do Depeche Mode, para explicar e exemplicar minha condição. Perdi, em seguida, meu player, fiel escudeiro, que me acompanha desde 1999, quando ainda era um discman da Panasonic, e não tenho dinheiro pra comprar um novo. Depois de implorar diversas vezes aos meus pais pela compra de um novo – sem efeito, sempre –, desisti. O terceiro nível, que mais me dói, é de não poder mais produzir minhas próprias canções, frente à tela. Esse era meu processo catártico de lidar com minhas frustrações, e ainda não encontrei outro que me ajudasse tão bem. Estou, portanto, acumulando meio ano de coisas ruins dentro de mim.

O sexo foi o último a desaparecer. Sinto, dentro de mim, o fogo do garotismo desaparecendo, da necessidade da caça e da auto-afirmação perante amigos e o resto da sociedade sexualmente ativa indo embora, malas prontas, sem bilhete, sem dizer se volta. Sim, eu deveria estar feliz. Se fosse somente isso. Todo e qualquer estímulo sexual pra mim, de certo tempo pra cá, é nulo; tudo o que antes me faria so horny e so hard hoje me deixa entediado, chateado ou irritado.

Sim, todo esse desabafo de mesa de bar tem um propósito. Estou me sentindo cada vez mais desapegado e segregado dos meus círculos sociais e do inconsciente coletivo, ou seja, de tudo e de todos. São dias de constante tristeza, dias do “tanto faz”. Tanto faz ir às aulas como ficar na cama. Tanto faz almoçar como fumar só um cigarro. Tanto faz conversar e rir com meus amigos como ficar sozinho, remoendo lembranças e enigmas, tão despropositais e incógnitos ainda. Sinto-me de volta a 2006, com uma grave diferença: naquela época eu usei meu melhor amigo como muleta, e num estado totalmente frágil e desamparado, comprei sua moral de uma forma que pra mim, naquela situação, parecia inevitável. Não quero que isso se repita.

Espero que todos entendam a situação, e não me vejam com olhos de pesar, porque Milan Kundera me ensinou direito as diferenças entre a “compaixão” grega e a latina, e como o peso dessa palavra moldou culturas. Não espero entendimento ou compaixão. Espero apenas que, a despeito de certo caso acontecido há pouco tempo atrás, que os que me tem como bem-quisto, apenas me tolerem.

All I have means nothing to me
And all I give, is so much more
When nothing is left, there's nothing to loose

When there's nothing to loose, there is peace of the mind

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Amber Waves/Bells For Her

Amber, fique longe dele. Fique longe dele porque eu não quero você longe das aulas de balé. EU não quero, porque não posso falar por mais ninguém, e se as outras pessoas não lhe falam é porque não têm vergonha na cara o suficiente pra dizer. Não largue as aulas de balé pelos vídeos pornôs. Não prostitua sua moral em nome de alguém que se alimenta de tal prostituição. Cafetões não moram só em Las Vegas, e eu não iria lá só pra lhe salvar. Mesmo porque você nunca ligaria, e o Jacarandá nunca me contaria sobre como andam as coiasa, então eu peço: fique longe dele.
Você sempre andou daqui pra lá em sua Nishiki, sempre sem tempo, e de repente você tem todo o tempo do mundo pra ter o sangue chupado. Pra ser enganada. Pra se vender por um espelho. Um espelho de circo. E eu sei que as palavras são tão doces quanto a sidra, e que confortam. Mas são apenas analgésicos, Amber. E você calça os sapatos dele como se seu número fosse 43, mas então porque você volta ao 39 quando ele não está do seu lado? Amber, Amber, Amber, afaste-se do Vampiro.
E quando você mente pra mim, quando você disfarça a situação e finge paz de espírito, não ganha nem tempo nem fôlego. Ganha um novo fio solto na trama do cobertor. Você diz que se importa, que está alí, mas não está. Porque toda vez que eu me pergunto se você está aí, eu não sei mais. Você parece com ela e tem os olhos dela, mas não é ela. A máquina dele de cura instantânea brilha no escuro, você diz. Eu digo Amber, trilhe outros rumos.
Já não sei mais como dizer as coisas pra você, então agora eu as digo só pra mim. Porque é a última instância, é cuidar tanto de você pra fingir que você não cuida mais de mim. De que viramos apenas colegas de xícara e tragada. Você já desistiu de mim, e eu tento compensar não-desistindo excessivamente de você, até. Mas é que dói. Dói saber que você, que se diz tão íntegra e fiel às falas, foge do texto, dependendo da platéia.
Em algum lugar os fios se perderam na trama, e o cobertor vai se desfazendo. Eu me agarro ao cobertor e isso acaba por acelerar o desfacelamento. Poderíamos colocar patches de gatinhos e remendá-lo, e não ficaria tão mau. Mas por favor... por favor, não cubra os rombos com a mão e pergunte do que eu estou dizendo.


So I went by cause I had the time,
told the Northern Lights to keep shining
They told me tell you -- they are waiving