terça-feira, 10 de março de 2009

Aviso aos navegantes

Estou numa fase bastante ruim. Aquela depressão-monstro que arrasara minha mente e deixara meu corpo em frangalhos em 2006, voltou. Escondeu-se durante dois anos aqui e ali, aparecendo no canto do olho entre dois picos de mania ou na calmaria que se estende entre dois dias agitados. Durante dois anos eu realmente caguei e andei, larguei terapia, achei que esse filme não teria continuação. Mas teve.

No semestre passado os sinais foram soando mais alto. Parecia que a sirene da ambulância rondava a vizinhança, mas que nunca passaria na frente da minha casa, deixando apenas um eco chato e constante. Tive três ataques de pânico, desde então. Meus relacionamentos familiares, que nunca foram grande coisa, esfacelaram-se. As amizades, em grande parte, não adquiriam XP suficiente e, aquelas outras, estreladas, esmaeceram, estilhaçaram ou implodiram.

Durante esse tempo todo, eu tive três grandes prazeres, que também eram fugas: a fotografia, a música e o sexo.

Com as minhas idas e vindas da praia a Joinville e de Joinville à praia, sempre em dias e horários aleatórios, prejudicou bastante a minha disposição para sair com a câmera à mão.

A música fugiu de três formas diferentes: primeiro, perdi meu computador, e com ele a minha biblioteca de cortes de papel, de momentos masoquistas. Quarenta gigabytes de cilício foram embora. “Isso deveria ser bom”, alguns podem dizer. Mas aquela era “a pain I was used to”, diria o vocalista do Depeche Mode, para explicar e exemplicar minha condição. Perdi, em seguida, meu player, fiel escudeiro, que me acompanha desde 1999, quando ainda era um discman da Panasonic, e não tenho dinheiro pra comprar um novo. Depois de implorar diversas vezes aos meus pais pela compra de um novo – sem efeito, sempre –, desisti. O terceiro nível, que mais me dói, é de não poder mais produzir minhas próprias canções, frente à tela. Esse era meu processo catártico de lidar com minhas frustrações, e ainda não encontrei outro que me ajudasse tão bem. Estou, portanto, acumulando meio ano de coisas ruins dentro de mim.

O sexo foi o último a desaparecer. Sinto, dentro de mim, o fogo do garotismo desaparecendo, da necessidade da caça e da auto-afirmação perante amigos e o resto da sociedade sexualmente ativa indo embora, malas prontas, sem bilhete, sem dizer se volta. Sim, eu deveria estar feliz. Se fosse somente isso. Todo e qualquer estímulo sexual pra mim, de certo tempo pra cá, é nulo; tudo o que antes me faria so horny e so hard hoje me deixa entediado, chateado ou irritado.

Sim, todo esse desabafo de mesa de bar tem um propósito. Estou me sentindo cada vez mais desapegado e segregado dos meus círculos sociais e do inconsciente coletivo, ou seja, de tudo e de todos. São dias de constante tristeza, dias do “tanto faz”. Tanto faz ir às aulas como ficar na cama. Tanto faz almoçar como fumar só um cigarro. Tanto faz conversar e rir com meus amigos como ficar sozinho, remoendo lembranças e enigmas, tão despropositais e incógnitos ainda. Sinto-me de volta a 2006, com uma grave diferença: naquela época eu usei meu melhor amigo como muleta, e num estado totalmente frágil e desamparado, comprei sua moral de uma forma que pra mim, naquela situação, parecia inevitável. Não quero que isso se repita.

Espero que todos entendam a situação, e não me vejam com olhos de pesar, porque Milan Kundera me ensinou direito as diferenças entre a “compaixão” grega e a latina, e como o peso dessa palavra moldou culturas. Não espero entendimento ou compaixão. Espero apenas que, a despeito de certo caso acontecido há pouco tempo atrás, que os que me tem como bem-quisto, apenas me tolerem.

All I have means nothing to me
And all I give, is so much more
When nothing is left, there's nothing to loose

When there's nothing to loose, there is peace of the mind

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