sexta-feira, 27 de março de 2009

Pequeno protesto contra a sexualização das coisas

Tenho pensado muito a respeito da sexualidade. A respeito da minha sexualidade, em especial. E tudo o que a envolve. Sim, porque hoje não basta apenas definir sua orientação; ela vem num pacote completo e forma a sua personalidade.

Desde que eu me entendo por gente, tudo é rotulado como sendo gay ou hétero. Músicas, livros, filmes, vestuário, etc. O interessante é que essas coisas não são e nunca foram feitas com o intuito de ter viados ou HTs como público-alvo. A afinidade das coisas e das pessoas de uma ou outra orientação é que que formaram esse conceito. Calça skinny, converse branco, Madonna, comédias da Sony são tachadas de coisas gays. Quando um hétero gosta de alguma dessas coisas, portanto, é tachado de gay. Rihanna? Gay. Siur Rós? Gay. Hot Chip? Gay.


Mas você já viu algum gay que escute sertanejo ser tachado de hétero? E os gays que usam calça skatista, vans, jogam Wining Eleven e jogam pelada no fim de semana? E os héteros que não perdem um capítulo de Ugly Betty e têm a discografia da Björk?


Desde pequeno eu aprendi a separar todas as coisas do mundo na caixinha rosa e na caixinha azul. E, talvez por me identificar mais com as cosias da caixinha rosa, tenha pensado: oras, devo então ser gay. Quantas vezes nessa vida eu já ouvi isso de outros viados, sobre terceiros: esse aí é gay, só não descobriu ainda / só não gosta de pau ainda. E tudo porque eles têm gostos semelhantes.


Mas você já ouviu algum hetero dizer isso às avessas? “Esse aí é ht, só não descobriu que gosta de xoxota ainda”? Na vida que não! Apesar dos gays levantarem a bandeira da diversidade, parecem ser eles mesmos os maiores castradores da diversidade. Exemplo básico: assim como estampar uma camiseta com a frase “orgulho branco”, estampar “orgulho hétero” parece uma ofensa a todas as bichas, sapas e travestis existentes. É incrível.


E aí eu fico pensando nos bissexuais. Que bosta que deve ser, hein. Porque bom, se você deve se enquadrar em padrões estéticos e morais pra ser uma coisa ou outra, imagina estar na corda-bamba. Que fique claro, não acho que enquadramento da personalidade pela sexualidade ou coisa que o valha seja uma coisa divertida ou natural, mas que é algo real, que tá aí, sendo esfregado na sua cara todos os dias. E os bis aí, correndo pra lá e pra cá. São deles mesmos essa coisa bárbara da quebra dos padrões. Existem esteriótipos mil pra viados e HTs. Mas e pros bis, que é que rola? Uma massaroca, então nada mais justo do que realmente chutar o balde e sair da caixinha rosa e da caixinha azul.


É triste saber que existe uma grande quantidade de pessoas que foram enquadradas numa sexualidade e outra a partir desses conceitos. Mais triste é saber que mesmo depois de ter todo esse conhecimento em mãos, muitos optam por continuar a levar uma vida vazia, com medo de um mundo estranho no qual não estão habituados. Comecei a remexer nas caixinhas que guardo na minha própria cabeça, decidi tirar tudo dentro delas e colocar em outros compartimentos não-tão restritos. E aí, você não acha que está na hora de dar uma olhada nas suas também?


This is an alarm call
So wake up, wake up now

2 comentários:

  1. A discussão poderia ir um pouco mais além, até chegar nos garanhões e nas biscates...
    Tenho muitos amigos que dizem que para eu ser macho só falta o pinto (com perdão do palavreado chulo), pelo menos eles não me chamam de biscate. A questão é, por que homens podem fazer o que fazem e levam fama boa e as mulheres quando fazem igual saem com um termo pejorativo nas costas?
    Essa história de colocar as coisas em caixinhas separadas na sociedade tá furada! Quero uma caixinha roxa pra misturar TUDO! :D

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  2. concordo com tudo! me exaspera principalmente a parte de gay ser ofendido com tudo, que nem preto. eu sou os dois e não me ofendo com nada! xD e na minha opinião, as pessoas não usam o papo de "humm, esse cara aí acho que é ht" porque é uma convenção antiga da sociedade achar que todo mundo é hetero. Logo, quando surge a dúvida, ela é verbalizada como "será que esse cara é gay? naaa, acho que não é" em vez de dizer "esse aí tá com mó pinta de hetero".

    mas eu acho sim que uma coisa puxa a outra. gosto é algo que cada um tem o seu, mas existe uma coisa chamada afinidade, que é o que leva uma grande parte dos viados a gostarem de madonna e gossip girl e detestarem futebol e billabong.

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